“Vai ficar tudo bem. Olha para mim, prometa que você vai ficar bem” -dizia Lucas, ao ver os olhos vermelhos de Melissa ao despedir-se dela. Mas tudo que ela sentia, era uma vontade incontrolável de implorar que ele não fosse. Ela precisava dele por perto, ele não sabia, mas ele era seu alicerce, era ele quem a sustentava em pé quando ela não descobria audácia pra tanto. Claro, que ela nunca disse isso a ele, e nem poderia. Ele apenas diria que era exagero, e iria rir. Melissa o via com olhos diferentes que ele a via. Ela o via como alguém que poderia envelhecer ao seu lado, ele a via como alguém que o apareceria, às vezes, para relembrarem como fora a mocidade. Eles se gostavam. Ela muito mais que ele e de uma maneira muito mais visível. Mas ambos sabiam que não demoraria muito, cada um seguiria sua vida. Melissa pensava nisso todas as noites em que não conseguia dormir, pensava no dia em que não veria mais aquele sorriso, que não teria mais aquele abraço, que não ouviria mais aquelas palavras docemente tímidas. Pois ali, naquele momento, despedia-se de tudo, contra sua vontade. Não disse adeus, não disse uma palavra. Olhava para ele, que falava, e falava e falava… Aturdido, não entendia por que ela chorava, afinal, continuariam se falando, continuariam sendo amigos. Encontrariam outras pessoas. Ele namoraria outras garotas, ela encontraria um bom rapaz, por que é que ela ainda insistia em permanecer calada, mostrando apenas nos seus olhos verde-água, a angústia que vestia seu interior? Ele continuava a falar, tentando encontrar uma maneira de fazê-la responder, reagir. Mas nada que ele falava, a fazia responder. Eram apenas sinais com a cabeça, ora positivos, ora negativos ou indiferentes. “Está sendo infantil”, disse ele, repetidas vezes. E viu aqueles olhos marejados, e aqueles traços que ele jamais prestara tanta atenção como naquele momento, perpetuarem se em sua memória. Sentiu um nó na garganta, abraçou a, erguendo-a alguns centímetros do chão. Ela não estava sendo infantil, ela o amava e ele nunca soube perceber isso, ela também nunca disse, com todas as palavras, nunca havia lhe dito aquelas 3 palavras. Mas ele sabia, ele sentiu naquele abraço, naqueles olhos. Então, o abraço se desfez, e ele a beijou. Melissa permaneceu em silêncio, mesmo após o beijo. Pensava que aquele beijo, fora uma maneira de ele fazê-la reagir, fazê-la responder. Ele se mostrava cada vez mais confuso, e então a ouviu dizer, quase que com um sussurro ‘vou indo, boa sorte, me liga se lembrar’. Ele então a segurou, e naquele momento, percebeu o quanto sentiria sua falta. Era tarde, pensou ele. Era tarde para ele descobrir o quanto gostava dela, o quanto precisava dela. Nunca percebeu, pois ela nunca deixou de estar ao seu lado, em qualquer momento. Retirou de seu pescoço, uma corrente fina  de prata. Deu a ela. Ela disse que não queria, as lembranças já bastavam. Ele insistiu, e ela a colocou em duas voltas, em seu pulso. Então, num súbito desejo de terminar logo com aquilo, afastou-se. Sorriu pra ele, um sorriso tristemente bonito. Lucas agora estava sério, olhando para ela, arrependo-se do tempo que perdera, mas agora era tarde, forçou um sorriso, que não era nada parecido com o seu. Aquele sorriso largo, alegre, encantador que ela se apaixonara… Ela se afastava, com passos lentos, olhando a corrente em seu pulso, como se esperasse que ele a alcançasse, mas sabia que ele não podia mesmo se quisesse. Ele permaneceu ali, parado, esperando a hora de partir. Pessoas ao redor que viam a cena, pensavam consigo que eram apenas um casal de namorados que se despediam, não sabiam nada da vida e viam novela demais. Mas não viam que parado ali, estava alguém que acabara de descobrir que amava alguém que o amava muito mais que a si mesma, e a via desaparecer por entre passagens e pessoas apressadas. A descoberta viera tarde demais. Talvez se encontrassem um dia. Talvez não. Agora estava nas mãos sórdidas do destino, já que quando estavam em suas mãos, não soubera cultivar.